Eu sei que nunca fui capaz de amar alguém em toda a minha vida, de ter um relacionamento saudável com um homem de quem me enamorasse. Não com profundidade(talvez por não ter desenvolvido totalmente o meu Complexo de Édipo).
Lembranças escassas de pessoas que não chegaram a ser importantes, nem relembráveis sequer, mostram esse meu defeito _ o desapego.
Não sei se aprendi a ser assim, em fuga sempre, temendo a rejeição que permeou minha existência primeva e me levou a crer que seria uma constante nos relacionamentos, ou se nasci com tal deformidade.
Nem mesmo a você eu amei o suficiente para evitar o afastamento, a bifurcação dos caminhos... Nada fiz para evitá-la. Em nada mais pensei quando assumi uma nova etapa de vida.
No entanto, havia em você algo mais profundo, mais aderente e mais doce. Sua personalidade mansa, pacífica, atraia a minha selvageria e brutalidade.
Por anos a fio fiz da minha vida um espetáculo deprimente, frio, inóspito, numa defesa que nem mesmo conhecia direito, nem mesmo compreendia plenamente. Onde o inimigo? Onde o perigo?
Nunca o soube...
Mas por anos a fio você foi sempre o modelo, a referência do que era bom, maravilhoso. Ninguém nunca o superou e nem sequer se igualou a você.
Por isso tudo, caminhando agora para o fim, reconheço (não sem uma dor alucinante) que amei uma única vez na vida, amei sem consciência, sem a necessidade de aprisioná-lo ao meu estranho e apavorante mundo.
Permiti o impensável: que você saísse do meu lado, sem derramar sequer uma lágrima, sem um único gemido.
Desconhecia o conhecimento das almas... Nem suspeitava que o verdadeiro amor estava nelas...
E assim, na ignorância do conhecimento mais puro, atravessei a vida com a sensação amarga do vazio e carregando sempre bem próxima ao coração a sua imagem, a lembrança do seu caráter, o seu sorriso fácil, o seu carinho inigualável.
Hoje, separados por anos em que só provei infelicidades que dilapidaram minha alegre inconsequência, retomo com turbulência a lembrança de nós dois e começo a desejar que este longo espaço de afastamento seja retirado de entre nós...
Uma vez mais desejo você e, com tal intensidade, que passo a me comportar como uma adolescente. Quero ouví-lo, tocá-lo, sentí-lo a qualquer preço, sem restrições.
Sinto a reciprocidade em você, porque nossas almas nunca se separaram, nunca deixaram de se amar, mas não creio que possamos retomar nada...
Se um dia você se lembrar de mim, depois que eu me for, abençoe uma vez mais o nosso amor antigo e renovado. E minha alma estará com você... eternamente...
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