Relógio

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Tribulação (ou O voo da águia)


Densas nuvens de envelhecida prata
Eclipsaram o céu de um intenso azul
E ensandecidas vagas contra as pedras
Eram açoites que empunhava o Sul.

A escuridão, pesada, perspassou-me
Gélida, os ossos, como um vulto atroz
E como vidro estilhaçado em pontas
Cortou-me o coração, calou-me a voz.

Em turbilhão, profusos sentimentos
Fizeram ecos na alma atormentada
E o vendaval de emoções tenebrosas
A eclodir bradava: "Não tens nada!

Tudo perdeste quanto um dia amaste
E despojada foste. Volta ao pó!
Não tornarás a ter mais a alegria
De ver teu filho, tua mãe, tua avó..."

Volveu-se em pranto a lancinante dor
A submergir-me em abismo profundo
Abominei em mim a própria vida
E desejei que se findasse o mundo...

Mas, nesta hora de tristeza tanta, 
Cristo tomou-me em Seus braços sagrados
E sussurrou-me, em meu ouvido, assim:
"Vivos estão em Mim os teus, guardados."

E em Suas mãos, segura, eu alcei voo
Como uma águia faz, quando há tormenta
Subindo além das mais espessas nuvens
A tudo vence, pois a tudo enfrenta.

E assim procedo, em cada dia mau.
Como águia sou e o céu azul conquisto
Pairando muito além do temporal
A segurar nas firmes mãos de Cristo.





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